A raridade do pensar

A filosofia busca, através de argumentação teórica e intelectual, a veracidade de cada afirmação. Entretanto, o senso comum também é uma forma de conhecimento, caracterizado pelo conceito “do povo para o povo”, ou seja, se baseia numa subjetividade que se generaliza: é a compreensão popular de algum aspecto da realidade. Também se pode dizer que o senso comum é uma primeira impressão sobre uma determinada realidade.

Portanto, cabe à filosofia questionar e por à prova as afirmações do senso comum, buscando entender seu significado, suas origens e sua verdade. A partir da crítica filosófica ou científica, pode-se confirmar ou desmistificar afirmações dos mais variados conceitos, com a finalidade de ampliar os horizontes, com novos conhecimentos e possibilidades.



O fato é que a filosofia, despretensiosamente, começa questionando a realidade imediata e manifesta, pois quer desvelar o que está por trás do evidente. Por exemplo, a maioria das pessoas aceita, passivamente, a afirmação de que o trabalho dignifica o homem. Com isso, as pessoas são levadas a desmerecer os que não trabalham.

Aparentemente, a filosofia não tem utilidade prática, logo, seu destino é o lixo, tanto na escola como na sociedade, pois ela não se ocupa com as aparências nem com a utilidade (para que serve), mas com a essência (o que é), por isso, sua defesa é a indagação. Embora haja um discurso em defesa do ensino, a realidade aponta para outra direção.

Se num período da história a filosofia foi banida da escola, era para que os estudantes em geral permanecessem alienados, sem consciência de seus direitos. Assim, as fórmulas prontas, que abstraiam o pensar, eram facilmente aceitas. Uma das características que definem o ser humano é o pensamento. Deixar de pensar, portanto, é desumanizar-se.



A presença, hoje, da filosofia nas escolas, embora superficial, pode ser vista como uma tentativa de suprir tal deficiência. Mas se o trabalho filosófico for bem fundamentado, o estudante será levado a pensar com a própria cabeça, sendo desafiado a buscar suas próprias convicções, passando a ver criticamente as aulas e os professores, gerando um novo modelo escolar.

Consequentemente, este modelo irá disseminar conhecimento, criando adultos conscientes e críticos. Portanto, a filosofia não tem utilidade prática, imediata e palpável, entretanto ela é necessária por permitir um processo de pensamento e analise. Fechar-se à filosofia é manter-se alienado.



"Muitos políticos vêem facilitado seu nefasto trabalho, pela ausência da filosofia. Massas e funcionários são mais fáceis de manipular quando não pensam, mas tão somente usam de uma consciência de rebanho. É preciso impedir que os homens se tornem sensatos. Mais vale, portanto, que a filosofia seja vista como algo entediante"
Karl Jaspers – filósofo alemão


Por Adriane Souza

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