Temor



Seus longos cabelos escuros se confundem com a noite.
Passa correndo pelas vias vazias com uma urgência sufocante, pois sabe que lhe resta pouco tempo. Como grande vítima das horas, segue de forma cadenciada ao seu destino.
Atravessa a porta e senta-se nas escadas. A sensação de segurança lhe contamina. Olha através da janela de vidro e contempla a lua.
“Finalmente estou em casa”, sussurra...

A lua que aparece tímida entre as nuvens em breve dará lugar ao sol.
E no quarto escuro, seus olhos ainda estão abertos. Vítima da noite, corpo e mente lutam entre o cansaço, mas o olhar nunca se perde... Ele tem um propósito.
Sabe que falta pouco, mas o tempo não se dissipa. Seus lábios serrados cedem lugar ao sorriso, quando os primeiros raios de sol afagam sua face.
“Finalmente a luz”, sussurra...

O sol nasceu. E o grupo de amigos segue cantando pelas ruas da cidade.
Ao longo do percurso todos se dissipam e seu ouvido encontra o silêncio. Nas primeiras horas do final de semana a agitação cedeu espaço ao marasmo. Viu-se de modo singular naquele instante e a dor apertou seu peito.
Com passos apressados entrou numa cafeteria lotada. Gritos e pedidos duelavam com risadas e conversas vis.
“Finalmente o som”, sussurra...

O sono lhe alcança e a paz quase lhe penetra, mas uma ideia insistente lhe perturba a mente, então a voz a endossa:

_Qual é o seu medo?

Quando a dor te corta

Nossa vida diante da tela.
Assim fico aqui repassando nossas fotos e pensando nas milhares de vezes que tentei fazer você sorrir em todas elas
Te fotografei de surpresa, de mansinho, sempre rindo a cada clique, com cada careta tua...
E dividimos sonhos, segredos, ambições, planos.

                                                   

Partilhamos tantos abraços... E que abraços...
E este teu mau humor constante, marca registrada deste jovem sarcástico, que ‘tirava sarro’ de tudo, até das coisas ruins.
Conversas diante de garrafas de vinho, goles de tekilla, drinks diversos e as incontáveis partidas de vídeo game, de tapão e de tudo mais que era possível.
Cantei tanto ao teu lado e me irritei com as gracinhas
Sorri tanto ao teu lado e partilhamos alegria



Agora, lembrando as brincadeiras com o João, da cumplicidade com o Caio, do carinho ríspido com a Fran e do companheirismo com o Bruno.

Como confidencia a música, eu só posso dizer:

“Só enquanto eu respirar vou me lembrar de você”

Deus levou de mim um amigo-irmão, me matou um pouquinho também e me deixou carregada de fotos, lembranças, saudade...

                                                

Rafael Hilário Domiciano, a vida veio e te levou com ela. Cada lágrima que derramei hoje não foi por dor e sim por te amar como irmão e ter vivido para ver você ir embora e me deixar para trás, nos deixar para trás...



Por Adriane Souza

Sopro da alma

♫   And this how it feels when I 
                                                                Ignore the words you spoke to me
        And this is where I lose myself

             When I keep running away from you   





(End Of Silence)

Um eletrizante Do do Rock para você!! Sinta e viva o som!

Aprenda a ser solteiro

Quando não são os poetas cantando "fundamental é mesmo o amor. É impossível ser feliz sozinho...", tem sempre uma mãe, uma tia ou um amigo condenando quem está solteiro, como se a situação fosse um problema. E como já não bastasse, tem até pesquisa dizendo que as pessoas comprometidas são mais saudáveis. De acordo com um estudo da Universidade de Tel Aviv, em Israel, os homens solteiros têm 64% a mais de chances de sofrer um derrame fatal em comparação aos casados. Mas isso vale apenas para quem tem um relacionamento satisfatório, pois a felicidade influi positivamente sobre a saúde física e emocional.



Se você procurar o termo “solteiro” em qualquer site de busca, todos os resultados apontarão para serviços de encontros. Parece até que a sociedade exige que todos tenham um par, que é impossível ser feliz sozinho. Mas, na verdade, existe uma diversidade de coisas que só acontecem para as pessoas solteiras e, por isso, a combinação da palavra “solteiro” e “sozinho” é muito relativa.

Sabia que existe uma grande diferença entre ser solteiro e estar solteiro? Quando alguém diz que está solteiro, a impressão é de que aquela pessoa não vê a hora de começar um novo relacionamento. Parece que o tempo está passando e é preciso correr para a balada e exercer as habilidades de caça ou ficar observando todos que passam, esperando que, por milagre, a pessoa certa cairá do céu. Isso é estar solteiro: não aceitar a situação.

Já os que são solteiros, não pretendem namorar tão cedo e levam a vida de forma mais aberta, sem se preocupar com essa obrigação social do relacionamento. Por isso, são pessoas mais agradáveis e que, consequentemente, aproveitam melhor as festas, as companhias e os amigos. Se você está namorando e é feliz, também está aproveitado a vida do seu jeito e, para nos solteiros, não adianta ficar preso a ideia de que jamais terá alguém do lado, não é preciso ficar se dramatizando por isso, afinal a vida é feita de fases, portanto é fundamental aproveitar cada uma delas.



Hoje, muita gente têm preferido ficar mal-acompanhada do que só, por causa das convenções sociais, o que é uma má escolha. Se você enxerga a vida de solteiro como um drama, deveria pensar na liberdade que muitas pessoas não conhecem por medo de ficarem sozinhas. É difícil quebrar dogmas como este, então, o solteiro sente-se obrigado a ser infeliz, incompleto, como se a felicidade estivesse sempre presa a outra pessoa. Porém, como é possível oferecer felicidade a outra pessoa se não é possível ser feliz consigo mesmo?

O ser humano vive buscando em outra pessoa um sentimento que ele mesmo deveria possuir. Eis a base de um relacionamento feliz: oferecer amor, mas amar-se também. Mesmo assim há quem prefira passar a maior parte do tempo no time dos solteiros. Assim como há quem passe dias, meses ou até anos cabisbaixo por não ter um “esquenta pés” para chamar de seu... E a maioria das pessoas alterna esses dois estados durante a vida.

Os relacionamentos ajudam, mas não se pode esperar que o cônjugue seja o ponto de alegria e equilíbrio da sua vida. Ficar sozinho, no entanto, pode ser uma opção prazerosa, na qual se descobre o valor da própria companhia, aproveita-se melhor os amigos e a família. A verdade é que existe uma multidão de solteiros que é silenciosamente feliz.


Por Adriane Souza

Onde estará



Procuro nas gavetas. Olho em todos os lugares.
“Onde estará?”, me pergunto.
Nada nos cantos, nos potes, nas caixas...
Será que só eu notei que está faltando?
“Ahh, uma hora aparece, é assim mesmo”, alguns me disseram.
Mas não acredito, tenho que continuar procurando...
Tenho que continuar...


Como objetos que perdemos nos cantos de casa durante a vida, o Brasil soma, segundo o Cadastro Nacional de Pessoas Desaparecidas do Ministério da Justiça 1.214 casos de pessoas desaparecidas por suspeita de homicídio e extermínio. Pessoas que nunca voltaram para casa e deixaram apenas um rastro de sangue pelo caminho.

Algumas dessas vítimas da fatalidade são inocentes, que estavam no lugar errado na hora errada. Um grande exemplo seria o cenário relatado pelo jornalista Caco Barcellos que, após dez anos de pesquisa, lançou o livro “Rota 66 – A História da Polícia que Mata”.

“Brasil, o retrato de 55 mil crimes de morte por ano. Vítimas desarmadas, indefesas, apavoradas com a perseguição policial, amedrontadas com os tiros inconsequentes disparados e, enfim, mortas, com requintes de crueldade, já que o número dos disparos foi muito além do necessário para o homicídio”.

Será que todo policial realmente protege? Muitos por ai estão manchando suas fardas, contaminados pela criminalidade...



Desde o dia 20 de junho, um garoto de 11 anos está comovendo grande parte do país. Após tiroteio no Rio de Janeiro, quando foi baleado em um confronto entre policiais militares e traficantes, ele desapareceu deixando apenas um chinelo e algumas marcas de sangue no muro. O irmão dele, de 14 nos, que também foi ferido, está sob proteção da Polícia Civil.


Uma história está comovendo o Rio de Janeiro: um menino de 11 anos está desaparecido desde segunda-feira (20), quando foi baleado em um confronto entre policiais militares e traficantes. O irmão dele, Wesley de 14 anos, que também foi ferido, está sob proteção da Polícia Civil.

Os irmãos voltavam para casa quando começou um confronto entre PMs e um traficante. Wesley disse que viu Juan baleado. Como também estava ferido não conseguiu socorrê-lo e foi buscar ajuda da mãe em casa. Quando a família chegou ao local do tiroteio, o menino não estava mais lá.

Os três policiais envolvidos no tiroteio foram e confirmaram que viram Wesley ser socorrido por moradores. Mas disseram que não ter visto Juan em nenhum momento. A mãe afirma não ter mais esperanças de ver o filho vivo. Como a situação se agravou, com o envolvimento da mídia, gerando pressão por parte da sociedade, as investigações estão em andamento e todos estão procurando nos cantos, nos potes e nas caixas do Rio de Janeiro por mais um objeto desaparecido.


Por Adriane Souza

Quando...

               ♫ Vou esperar do seu lado
                                                                                                 A tempestade passar
                                                                                              Vou esperar do seu lado
                                                                                           Porque eu só posso esperar  








(Leoni  ♫)

Sem limites



Escolhi abraçar o mundo.
Aos 19 anos entendi que não pertencia a lugar nenhum. Minha vida se resumia a não ter limites. Tendo o firmamento como casa, segui meu destino.
Sai de Ourinhos deixando lágrimas nos olhos dos meus pais. Deixei os amigos, os livros, o aconchego... Fui á luta. Em companhia da minha arte, passei por diversas cidades de São Paulo e cheguei a Floripa.
Lá encontrei um amigo, de 18 anos, que fez o mesmo que eu: abraçou o mundo. O frio nos castigou muito e nos deu uma nova meta: seguir para um lugar mais quente... Vamos para Bahia.
Quando o coração aperta, volto para casa e ganho beijos de mãe e abraços de pai. Confesso que os últimos já fazem dois meses, mas, quem sabe em breve eu não passe por lá.
Para falar a verdade, não acredito em Deus, nunca acreditei, mas alguém cuida de mim, pois nunca passei fome, nem pedi esmola. Minhas acrobacias em semáforos e os artesanatos que faço me sustentam. Vez ou outra consigo até pagar um hotel simples para dormir.
Até ontem estava em Sorocaba, uma terra boa com gente de bom coração. Hoje estou em Itu e amanhã, quem sabe... Pensei em passar por São Paulo, mas sofri muito em Osasco, mudei meus planos.



Achava que o ser humano estava podre, mas, nesses dois anos de vida alternativa descobri que a humanidade ainda não chegou ao fundo do poço. Conheci muita gente boa, gentil e agradável, que compreende que nem todo o andarilho é mendigo, bandido ou monstro. E, para provar isso, ontem no ônibus que me levou para Sorocaba, conversei por uma hora e meia com uma jovem estudante de jornalismo, que estava tentando voltar para casa. Ela me disse de cara: “Sabe, eu ralo muito... Moro em Cerquilho, trabalho em Sorocaba e estudo em Salto. Faço de tudo para construir uma vida boa, mas, olho para você que é completamente o oposto de mim e percebo que és muito mais feliz do que eu! Que injusto”. Sorrimos e começamos a conversar... Foi bom dividir uma hora e meia da minha vida com ela, assim como fiz com muitos antes dela e ainda farei com vários depois...
E não é para isso que nascemos: crescer, partilhar, aprender e morrer?


Por Adriane Souza


Dedico este texto para uma pessoa que, infelizmente, nunca irá ler: o andarilho Cris, de 22 anos, que me ensinou muitas coisas numa curta viagem de ônibus.